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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A solidao de um homem



Morava num edifício decrépto, no centro da cidade, quase que um cortiço, subia os dez andares todos os dias como uma disposição indescritível para um homem de sua idade, fumava um maço de cigarro por dia, invariavelmente, possuía uma rotina de vida metódica, sem alterações nenhumas, praticamente ia de casa ao trabalho, do trabalho para casa. Se chamava Egberto, e morava com seu cãozinho um velho Pequinês, já sem os pêlos e quase cego. O apartamento de quarto, cozinha e banheiro fedia urina, e nas paredes podia-se observar uma mancha espessa de gordura amarelada. Morava apenas com seu companheiro, na solidão, não possuía amigo algum, achava que todos poderiam querem lhe passar a perna. Egberto era um velho amargurado, comia os dejetos que encontrava em sua geladeira, quase sempre já criando fungos. Seu apartamento era pouco iluminado, as pesadas cortinas escondiam aquele palácio de podridão em que sua vida estava imersa. Não tinha carro, ia todos os dias ao trabalho de ônibus, quase sempre apinhado de gente. Chegando ao trabalho, era tratado como um ser deprezível, nunca valorizaram sua profissão, era contínuo, trabalhava num escritório de revendas de produtos de limpeza, nada mais massante e repetitivo, carregava caixas e mais caixas o dia inteiro, chegando ao fim da tarde, suas glândulas sudoríparas já produziram substâncias suficientes para que ninguém aguente chegar perto dele. Pois bem, certo dia, Egberto voltava para seu lar, usava uma camiseta, deixando a mostra parte de seu corpo esquálido e peludo, apóia com uma das mãos no ônibus para não perder o equilíbrio quando avista, um pouco a frente, uma mulher que não tira o olho de sua direção, ele se surpreende, não é nenhuma maravilha, mas é ajeitada, e tem um belo quadril. Ele começa a encará-la descaradamente, ela, uma morena bronzeada, não muito nova, cabelos meio quebradiços, uma imensa boca carnuda, seios pequenos, quase inexistentes, começa a olhá-lo mais insistentemente, Egberto, que sempre pensou que as mulheres estariam querendo se aproveitar dele, resolve arriscar, a se aproxima com dificuldade, se movendo entre o povo aglomerado como sardinha em lata. Olha com um ar de tigrão e dispara o galanteio barato: - Você toma sempre este ônibus? - Ás vezes... Ela responde, com um certo ar de menosprezo. - Sabe, estava te olhando, e pensei se a gente poderia se conhecer melhor... - Desculpe, não estou interessada, estava te olhando pois o confundi com um amigo meu. - Amigo? Mas... Só amigo? Ela vira o rosto para o outro lado, o cabelo armado bate no rosto de Egberto, ele pode sentir um perfume meio vencido, ela diz: - Interessa? - Se estou perguntando é porque interessa. Meu nome é Egberto, mas pode me chamar de Beto, e o seu? - O meu não! Egberto não pode precisar se aquilo era uma piada para quebrar o gelo ou um fora brutal, e insiste, tentando crer que era uma galhofa ingênua: - Há! Há! Gostei! Adoro mulheres com senso de humor! Mas qual é seu nome? Ela se vira e fala alto, para todos do ônibus ouvirem: - Cara! Vê se se encherga! Eu não quero papo! Sai fora jacaré! Todos se viram e o rosto de Egberto fica Rubro de uma hora para outra. Ele sussurra no ouvido da mulher: - Isso não vai ficar assim, não vai, está ouvindo? Ela puxa a corda para o ônibus parar, e desce no ponto, imediatamente se vira para averiguar, lá estava ele, Egberto, havia descido também, e estava olhando em sua direção. Ela, sem dizer uma só palavra começa a andar em passos rápidos, tentando encontrar uma pessoa na rua, mas estava tudo deserto, estava anoitecendo, e nenhum carro passava naquela ruazinha. Ela acelera o passo, tenta correr, quando pensa talvez ter despistado Egberto, lá estava ele, atrás dela, com seus passos firmes e decidido. Ela entra na pequena portinha de seu prédio que na verdade era um cortiço, Egberto caminha atrás, entra também, ela entra em pânico, não há um vizinho, um porteiro, nada para ajudar, ela começa a subir a escada, mora no décimo primeiro andar, está tudo escuro, então ouve passos a seguindo, Egberto! Quando ele já está quase alcançando-a, ela se ajoelha no chão, no meio lance de escadas, para e fica lá, prostrada, aguardando seu algoz chegar. Egberto se surpreende ao ver essa cena em sua frente, e diz: - Hei! O que significa isso? - Venha, não posso mais suportar essa pressão, me possua, faça o que quiser de mim, mas me deixe em paz, vamos, estou aqui! A mulher fala, enquanto se despe veementemente e se atira ao colo de Egberto. Lá na escada mesmo acontece o esperado, frenéticamente e quase que animalmente se consuma o ato. Pouco depois, Egberto diz, enquanto coloca as calças: - Tenho que te dizer uma coisa: Eu moro aqui, não queria fazer nada com você, estava apenas indo para meu apartamento. Ela, com um sorriso maroto no rosto, ainda nua, diz: - Eu sei disso. Pensa que eu nunca o percebi aqui? Você nunca me viu, mas eu já te vi dezenas de vezes, esperava uma chance de me entregar a você, seu bobo! Ele, arregalando os olhos, se espanta: - Então você me enganou? Você me usou? Me fez de palhaço, como todas... - Como? Fora de si, Egberto com os olhos faiscando e uma brusca violência, vocifera: - Todas as mulheres... Todas querem se aproveitar de mim, querem me usar como a um objeto! Avança em direção a mulher, ainda sentada na escada, as mãos no pescoço, apertando cada vez mais. - Cof! P-pare! Cof! É a única coisa que ela ainda consegue dizer, enquanto Egberto, com um olhar transtornado, sufoca a incauta, com uma indescritível fisionomia de prazer. Sente o ar se esvaindo, sente que não oferece mais reação, que não pode mais gritar, acabou. Um fio de baba escorre pela boca, semi-cerrada da mulher, a língua está enrolada, não há mais vida. Lentamente, Egberto a arrasta para seu apartamento, seu cãozinho se alvoroça, balançando o rabo e arfando sem parar, ele abre a porta do banheiro, e com um ar de realização, contempla sua coleção: Na banheira três mulheres, com os corpos já em avançado estado de putrefação, esquartejados, as moscas varejeiras comendo o que sobrara da carne esverdeada, as paredes pintadas com sangue, e no espelho, escrito em vermelho tinto, já coagulado, as seguintes inscrições: Nunca mais enganado...

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